“Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa.”
Cristovam Buarque
Como comentamos que muitos querem comprar a nossa floresta, pesquisei pessoas que são contra a sua internacionalização e achei um texto de Cristovam Buarque sobre a privatização da Amazônia. Um texto escrito em 2000, comovente, bonito e muito bem escrito. Ele afirma que se internacionalizamos a Amazônia, devemos então internacionalizar tudo que está à nossa volta para assim, assim, quebrar as barreiras políticas e econômicas e a socialização de investimentos em saúde, cultura, educação e meio ambiente.
Buarque usa alguns argumentos como “Nova York, como sede das Nações Unidas, deveria ser internacionalizada,” ou até “Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humana.” Foram algumas respostas dadas a uma provocação feita por um jovem debatedor em um encontro em Nova York, enquanto a megalópole sediava o Fórum do Milênio, das Nações Unidas. O jovem repetia argumento de vários outros estrangeiros, a intervenção estrangeira para a resolver os problemas na Floresta Amazônica e com aquele famoso lema: “A Floresta Amazônica não é apenas do Brasil. É do mundo.”
O texto “A Internacionalização do Mundo,” de Cristovam, transformou-se em verdadeiro lema para todos aqueles que defendem a idéia com unhas e dentes de que a nossa floresta não deve ser internacionalizada. Com este texto, Buarque consegiu que o tema do meio ambiente ganhasse espaço na mídia e que todos os que leram se emocionassem com a idéia de que se é para internacionalar um patrimônio, deve-se internacionalizar todos. Parabéns Cristovam!
A internacionalização do mundo
O Globo – 10/10/2000
“Fui questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia, durante um debate, nos Estados Unidos. O jovem introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para uma resposta minha. De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia.
Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Respondi que, como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, podia imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.
Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia é para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Os ricos do mundo, no direito de queimar esse imenso patrimônio da humanidade.
Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país.
Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, possa ser manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
Durante o encontro em que recebi a pergunta, as Nações Unidas reuniam o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu disse que Nova York, como sede das Nações Unidas, deveria ser internacionalizada.
Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.
Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola.
Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver.
Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa.”
3 comentários:
Acho que foi uma boa defesa de nosso patrimonio, porém creio que alguns comentários de Cristovam vêm a ser um pouco generalizados.
Aparenta ser um mecanismo de defesa, de alguem que tenha sido ofendido por um ponto de vista que tambem é um pouco generalizado.
Agora concordo que a Amazonia não deve ser internacionalizada. Mas por razões diferentes, e talvez até mais simples.
p.s.:
1st comment! =)
Manuuuuu.. adorei a ideia do seu blog... bem criativo... e acho mto interessante... e continua colocando assuntos assim como a internacionalização da amazônia...
vamos ver se assim as pessoas começam a se consientizar do valor na nossa floresta =)
BjãoO Gatonaaa!!
profundamente Cristovam por um discurso tao granndioso como este..
nao o digo por gostar dele enquanto candidato, ate pq n coloco minha posição politica, mas gostei como o humanista e o professor que ele é..
ele de fato, deu uma aula de patriotismo e inteligencia com responsabilidade!
de fato..
se desejam internacionalizar a Amazonia, primeiro internacionalizem o resto e deixem o que é nosso conosco..
depois os hipocritas dos americanos pensam em salvar a cidadezinha deles com a Amazonia..
quem sabe eles nao constroem uma.. eles nao sao a grande potencia?? pq n usam desse poder pra salvar o planeta?
e nao jogar essa responsabilidade sobre nos..
tempos nossa culpa e responsabilidade sim.. mas eles tb!
acredito que Cristovam tenha sido profundamente conveniente e realista. e quem sabe o governo estadunidense nao perceba isso tb??!!
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